terça-feira, 18 de agosto de 2009

Natália Correia

Mãos feridas na porta dum silêncio

"Vida que às costas me levas
porque não dás um corpo às tuas trevas?

Porque não dás um som àquela voz
que quer rasgar o teu silêncio em nós?

Porque não dás à pálpebra que pede
aquele olhar que em ti se perde?

Porque não dás vestidos à nudez
que só tu vês? "


Como dizer o silêncio?

"Se em folhagem de poema
me catais anacolutos
é vossa a fraude. A gema
não desce a sons prostitutos.

O saltério, diletante,
fere a Musa com um jasmim?
Só daí para diante
da busca estará o fim.

Aberta a porta selada,
sou pensada já não penso.
Se a Musa fica calada
como dizer o silêncio?

Atirar pérola a porco?
Não me queimo na parábola.
Em mãos que brincam com o fogo
é que eu não ponho a espada.

Dos confins, o peristilo
calo com pontas de fogo,
e desse casto sigilo
versos são só desafogo.

E também para que me lembrem
deixo-os no mercado negro,
que neles glórias se vendem
e eu não sou só desapego.

Raiz de Deus entre os dentes,
aí, pára a transmissão.
Ultra-sons dessas nascentes
só aves entenderão."

Natália Correia
Poesia Completa

Obrigado Natália por teres inspirado todo um país, por teres tocado fundo no coração de tantos, onde se incluem os meus pais.
(as fotografias foram tiradas em Génova, mas poderiam ser em qualquer escada de igreja ou em qualquer restaurante)

1 comentário:

  1. shiuu.... não comento...eu cá fico calada...
    num silêncio cúmplice.

    A.

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