sábado, 4 de dezembro de 2010

As farpas


As Farpas

Eça de Queiroz

"Aproxima-te um pouco de nós e vê. O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A práctica da vida tem por única direcção a conveniência. Não há príncipio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita,absoluta indiferença de cima abaixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada. O tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretárias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce. As quebras sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. Neste salve-se quem puder a burguesia proprietária de casas explora o aluguer. A agitagem explora o lucro. A ignorância pesa sobre o povo como uma fatalidade. O número das escolas só por si é dramático. O professor é um empregado de eleições. A população dos campos,vivendo em casebres ignóbeis,sustentando-se de sardinhas e de vinho, trabalhando para o imposto por meio de uma agricultura decadente, puxa uma vida miserável,sacudida pela penhora; a população ignorante, entorpecida, de toda a vitalidade humana conserva únicamente um egoísmo feroz e uma devoção automática. No entanto a intriga política alastra-se. O país vive numa sonolência enfastiada. Apenas a devoção insciente perturba o silêncio da opinião com padre-nossos maquinais. Não é uma existência,é uma expiação. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte:o país está perdido! Ninguém se ilude. Diz-se nos conselhos de ministros e nas estalagens. E que se faz? Atesta-se, conversando e jogando o voltarete que de norte a sul, no Estado, na economia, no moral, o país está desorganizado-e pede-se conhaque! Assim todas as consciências certificam a podridão; mas todos os temperamentos se dão bem na podridão! "

Eça de Queirós escreveu isto em 1871, durante mais quanto tempo se manterá actual?

Um Ministério dos parvos modos de andar já não me parece assim tão impossível...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Barril

Quantas pessoas cada um de nós amará verdadeiramente durante a sua vida?


Um dia, em plena primeira classe, colocaram-nos uma questão sobre quem seriam as pessoas de quem mais gostávamos e respondi: "os meus avós".

Não quero aqui comparar sentimentos, até porque tenho uns pais incríveis e a resposta deveu-se à profunda admiração que já na altura sentia pela Joana Pepe e pelo Sr. Vieira.

Ambos enfrentaram uma vida coberta de desafios. O meu avô tinha nove irmãos e viveu os "mitos urbanos" de uma sardinha para dividir entre todos e do primeiro a levantar-se era o que vestia o casaco. A minha avó, ainda em idade de escola primária, já se levantava de noite para ir para o campo trabalhar, mal o sol emitisse os primeiros raios de luz.

Ainda hoje, quando os visito, o seu sorriso de crianças traquinas emociona-me como nenhum outro.

Têm sempre pronta uma brincadeira, uma "estória", uma anedota.

O Sr. Vieira fez no dia 23 de Outubro (na realidade foi a 15, mas os pais só o registaram oito dias depois) 90 anos!

O amor que eles têm um pelo outro é a lição que nenhum professor me poderia ensinar.

Parabéns Barrilinho!


"Benditos os que não confiam a vida a ninguém"
Livro do Desassossego

domingo, 10 de outubro de 2010

Ao contrário da maioria dos meus amigos, não me recordo de ter tido uma adoração por qualquer cantor, actor, futebolista.

Mesmo a descoberta de outras artes não me trouxe a quem goste de seguir todos os passos.

Apesar de sempre me surpreender de uma forma maravilhosa, de Paula Rego pouco sei, desconhecendo o que anda a pintar.

Os Arcade Fire tocam muitas vezes onde me encontro, não sendo do entanto um novo disco deles mais aguardado que o de outras bandas.

Considero Tim Burton um génio, o que não me fez ver todos os seus filmes.

A regra teve a sua primeira excepção com Bret Easton Ellis e o seu relato da abastada, fútil e narcisista juventude de Los Angeles.

Quem era aquele gajo que escrevia sobre como os putos ricos se achavam superiores ou sobre a sua obsessão consumista?

O Menos que Zero, marcou-me ao ponto de ser o único nome que pensei para este blogue.

Livros como Psicopata Americano ou Lunar Park agarraram-me desde a primeira página.

Quando no início de 2010 li que iria sair um novo livro do Bret Easton Ellis fiquei entusiasmado e quando percebi que era sobre a evolução dos personagens, 25 anos após ter sido escrito o Menos que Zero, passei-me!

Desejei esse livro como um miúdo deseja a bicicleta que vê na montra da loja( ou melhor, o jogo que vem sustituir o que comprou há uma semana e com que todos os dias brinca no shopping enquanto a sua mãe vê "as últimas tendências da moda zariana").

Li os comentários e críticas que foram saindo em várias revistas. As (raras) entrevistas mais não serviram que para aguçar o apetite.

Cheguei a ir a livrarias antes do livro sair.

E depois vi esta capa e não gostei.

Afinal, estava a milhas da criatividade da edição americana.


Mas, caramba! É só uma simples capa!
E depois veio um longo bocejo em forma de livro.
Uma repetição, sem qualquer evolução digna de registo, de um livro (fórmula) de sucesso.
A desilusão do puto que afinal recebe a bicicleta que não deseja, tomou conta de mim.
E para aqui estou, a tentar perceber porque foi o arrogante (sim...acabou o estado de graça do Bret!) abanar a nossa relação!

Mas ele deu-me o Menos que Zero e aqui o tótó, como qualquer outro fã, já aguarda o próximo livro!

Enfim...se não os podes vencer...

domingo, 5 de setembro de 2010

Avante 2010

Um olhar sobre a festa do Avante, no ano em que "A Carvalhesa" faz 25 anos.

Começa quase sempre da mesma forma...
independentemente de como se vai...
se para alguns o ideal continua vivo...
outros deslocam-se somente pela música (aqui, Diabo na Cruz, com o "Colibri" B Fachada em destaque, acompanhados de Vitorino)...
o calor incomoda muito...

e nada como uma pausa para colocar a conversa em dia...

é que o dia é longo e os excessos pagam-se caro!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A juventude vista deste lado

Hoje, num qualquer programa do início da manhã, dos que nos tentam despertar para a labuta diária, ouvi um médico falar sobre comportamentos menos próprios por parte dos jovens.

E qual é a novidade? Não ouvimos sempre os comentários negativos sobre os mais novos ( geração rasca, recordam-se?), inclusivé dos que usaram e abusaram de tudo o que é substância química durante a sua adolescência? Como se a juventude de hoje fosse pior que a do seu tempo!

Foi nesse programa referido que se fazem concursos para ver quem aguenta ingerir mais alcool e que estes jovens só se divertem se "alterados". (pshiu....alguem se recorda do 2000? da Tuborg e dos submarinos?, do início dos "pontapés na cona"? do Jamaica? da Tasca do Cão?...)

Obviamente que não defendo que esse seja o comportamento que nos trará uma geração melhor preparada para a vida futura, somente considero que estes não são diferentes dos do meu tempo, nem de outro tempo qualquer. Porque em vez de criticarem, não se preocupam em procurar alternativas, em mudar mentalidades, em conseguir equipamentos de lazer por forma a os manter animadamente ocupados?

E do alcool passou-se para o comportamento irresponsável dos jovens (o grupo etário 13-15 anos foi dado como exemplo) no âmbito sexual, mostrando-se o médico quase chocado com o aumento de doenças sexualmente transmissíveis entre essas quase crianças. O mundo mudou e hoje o acesso a todo o tipo de informação é conseguido de uma forma imediata e sem grandes obstáculos. A emancipação sexual ocorre muito mais cedo, sendo as doenças (além da gravidez indesejada, mas isso já não é de hoje) a sua face mais negativa. Não me parece que a culpa seja exclusiva dos pais como o quase "enojado" médico quis fazer crer.

A obrigação é pois nossa, dos adultos (pelo menos teoricamente) responsáveis, de preparar os mais novos para a selva e não é a apontar o dedo aos outros que o vamos conseguir.

P.S. Nunca fui o mais popular de nenhum grupo e sempre me irritaram os trogloditas armados ao pingarelho. No entanto, foi sempre dos sabichões que mais me afastei. Talvez porque assim evitava entrar para o grupo dos que lhe davam uns belos calduços!

Burocracias


Na última semana fui duas vezes à repartição de Finanças de Carcavelos, tendo verificado que existe um tempo padrão para ser atendido: uma hora.

Se na primeira ali me desloquei porque não efectuei o pagamento do Imposto de Circulação a tempo e horas (a multa foi quase no valor do Imposto), na segunda pretendi somente perceber o motivo pelo qual me comunicavam uma avaliação de uma casa da qual já não sou proprietário há mais de dois anos.

Sinceramente fiquei esclarecido, a um ponto em que só dificilmente ali voltarei!

E ainda falam dos Tribunais...

Como os meus encontros com a burocracia estavam longe de terminar, fui contactado pela ZON e pela Vodafone, no sentido de subscrever o pacote (linda designação) de TV/Internet/Telefone.

Sucederam-se os telefonemas e as confusões e dúvidas que culminaram em mais uma hora, desta vez ao telefone, para agendar nova deslocação do técnico da ZON a casa, a fim de proceder à troca da BOX (trouxe uma diferente da contratualizada), o que não foi conseguido devido a uma exagerada lentidão do programa informático!

E ainda falam dos Tribunais...

Como não há duas sem três, o banco que me emprestou dinheiro para comprar a minha casa, insistiu durante muito tempo que ela se situa em Lisboa e não em Carcavelos, como vem inclusivé indicado em toda a correspondência remetida. Falei com as funcionárias do balcão onde se encontra a minha conta e com operadoras do call-center e só a muito custo e depois de mais de uma hora ao telefone, consegui que apagassem da morada o destino Lisboa

Talvez o nome da capital na minha morada tenha surgido por acção de um simpático funcionário bancário, que decidiu prolongar uma velha tradição alentejana de que Lisboa é desde Setúbal até Loures.

E certamente ainda falam do Kusturica e do excelente documentário sobre o deus Maradona todos aqueles, que como eu, tiveram a sorte de o ver.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Mundial

O desejo "FIFAiano" concretizou-se e a selecção de nuestros hermanos venceu um aborrecido primeiro campeonato do mundo realizado em solo africano.

Desgastados por uma época demasiado longa e onde as requisições da sua presença são mais que muitas, as prima donnas levaram falta de comparência e só delas se falou por motivos exteriores ao rectângulo de jogo.

Excepção feita a Messi, que se esforçou o suficiente para não merecer a traição de um lírico treinador, sem espaço neste musculado futebol.

Valha-nos Forlan e Villa!

Apesar de só as selecções do Gana e Uruguai me terem "colado" ao velhinho aparelho difusor de imagens, gostei de ver a evolução da Coreia do Sul, Japão, Estados Unidos e Nova Zelândia.

O resto foi um tremendo bocejo, ilustrado perfeitamente pelos Navegadores, que na convocatória escolheram tantos avançados, como os que algumas selecções colocavam de início nos seus jogos.

O estratega da selecção de todos nós, na sua infinita superioridade sobre os humanos, acertou, tal molusco alemão, que o mundial ainda não tinha acabado para Portugal, quando nos calhou em sorte defrontar a futura e anunciada campeã mundial. E o tempo veio dar-lhe razão, pois eis que no grande dia da final, calhou-nos o prestigiado prémio do adepto do mundial para este super-herói de bigode:

P.S. O momento mais autêntico do mundial ocorreu após a sua final.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

João Moutinho


"Pois, apareceu (o) FC Porto - que não só bancou 11 milhões, mais 25% numa futura transferência, como perdoou 2,5 milhões que o Sporting ainda devia de Postiga, e, mais que tudo acrescentou-lhe o passe de Nuno André Coelho. Quanto valerá o passe de Nuno André Coelho? Eu não sei, mas sei isto: o João moutinho está em regressão há dois ou três anos, é um jogador regular, acertadinho, mas sem rasgo e, até ver, de progressão falhada; quanto a Nuno André Coelho, para mim, é a grande promessa para vir a ser o melhor central português do futuro. Eu não trocaria um pelo outro: o FC Porto trocou e ainda lhe acrescentou 13,5 milhões. Ou seja, por mais que se desvalorize o passe actual de Nuno André Coelho, a verdade é que, contas feitas, Pinto da Costa bateu a cláusula de rescisão de João Moutinho: 22,5 milhões. O Sporting livrou-se de um problema sem solução à vista e ainda conseguiu facturar o que já não podia esperar, nem nos melhores sonhos.
E querem a demissão de Bettencourt por causa disto? Bem, há gente ingrata..."
(miguel sousa tavares, hoje em 'a bola')

E é tão raro eu concordar com emproada figura.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

questões

"A palavra foi dada ao homem para ele esconder o seu pensamento"
Padre Malagrida

Um dia gostaria de conseguir partilhar todas as questões que me surgem durante um curto espaço de tempo.

Elas chegam e desaparecem a uma tal velocidade que frequentemente não percebo o seu real significado.

Será a loucura a bater à porta?

Ou uma vontade, não controlada, de aprendizagem sobre tudo o que nos rodeia?

Qual a constituição da equipa que deve entrar em jogo?

No quadro amarelo, que figura devo acrescentar?

De onde serão os Delphic?

Onde vou jantar amanhã?

Estas preencheram o meu cérebro enquanto escrevia a linha que as antecedeu.

Há uns anos vi este filme:



Como seria estar dentro de mim?

Nem eu consigo imaginar.....

Já lá dizia a Susan Sontag: "The only interesting answers are those which destroy the questions".

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Óculos

Foram poucos os objectos que realmente desejei ter. Os "Aviator" espelhados foram uma das raras excepções que confirmam essa regra.

Numa época em que a procura é muitas vezes o resultado de uma bem sucedida operação de marketing, tenho como defesa que todo o bem corpóreo pode ser substituído por outro semelhante, sem que daí resulte um efectivo prejuízo.

Só que a vida é tramada e, tal como as crianças puxam a roupa aos pais para que não se esqueçam delas, ela sacode-nos de tempos a tempos, obrigando-nos a acordar.

Raios! Como gostava deles!

Vejo diariamente vários, do mesmo modelo, nos rostos de miúdos e graúdos, reparo como lhes assentam bem.

O abanão foi pequeno e inconsequente para o que de verdadeiramente importante a vida representa, mas lá que me deixou fodido, isso deixou!

Enfim....


E no fundo sabem o que na realidade é importante: O molho dos mexilhões à Espanhola...estava um espectáculo!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O deserto de sexo e a cidade 2



A ante-estreia de "Sexo e a Cidade 2" fez rebolar pela passadeira pink do São Jorge os modelitos de aspirantes a Carrie.

Os empregados do bar inspirados no novo e rico Médio Oriente, com o seu turbante dourado, antecipavam o que, nas desconfortáveis e cheias de história cadeiras do velho cinema, iríamos assistir:

Um gigantesco anúncio, financiado certamente por um qualquer milionário X(ch)eque, onde até nos querem fazer acreditar que as mulheres, por debaixo das vestes que tudo tapam, usam as últimas colecções dos mais famosos utilizadores da agulha e do dedal.

Excluindo meia dúzia de situações divertidas, protagonizadas principalmente através da Miranda e da inevitável Samantha, o filme arrasa o que de bom a série nos tinha deixado.

Será o fim da história das quatro amigas?

A noite foi salva com a morangoska preta de meio litro, num dos mais simpáticos bares do Bairro Alto, dividida pois claro, que o "rapaz" é ajuizado (às vezes).

Na rádio passa o anúncio do "Mafra Cool Jazz", com Deolinda e a orquestra do Buena Vista Social Club! Se fizerem um festival de rock convidam o Tony Carreira?


P.S. Voltando ao filme: É mesmo verdade que se as miúdas têm ao seu lado o homem com que sempre sonharam, ficam com medo que a vida se torne aborrecida?

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Lua cheia, ginginha e cerejas

Em noite de lua cheia, a magia chegou ao Coliseu de Lisboa.



Que grande concerto!

Quero lá saber dos parvos, armados em intelectuais do teledisco e da cassete pirata, para quem a comunhão do público com uma banda, através de palmas, ou neste caso do bater do pé nas velhas madeiras do Coliseu, representa um estragar da música!

Se perderam a capacidade para se entusiasmarem, porque vão?

Durante pouco mais de uma hora, senti-me transposto para uma dimensão pararela onde tudo é se conjuga de uma forma bela e harmoniosa.

Não fosses as ditatoriais cadeiras a impedir o livre balancear dos corpos e teria sido um bailado colectivo de olhos brilhantes e emocionados.

Que grande concerto!

A surpresa da foto recebida por quem não foi.

A ginginha do Eduardino puxou sorrisos e a noite não acabou sem as deliciosas cerejas, como que retiradas da t-shirt.

Lá terei de ir ao SBSR!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Crise

E de repente Portugal percebe que a crise é real e toca a todos!

A culpa, claro, é da conjuntura económica mundial, nada tendo que ver com a forma como gerimos os nossos recursos, nem tão pouco com a propensão, quase inata, que todos os governantes parecem ter para o despesismo descontrolado.

Por isso e como sou bonzinho, cá vão 5+1 exemplos (de borla e sem exigir qualquer reconhecimento) do que pode ser feito para ajudar na recuperação financeira:

* Os adquirentes de imóveis com um valor de mercado superior a € 300.000 e os de veículos automóveis com um valor superior a € 50.000 deveriam justificar os seus rendimentos (acreditando na honestidade de todos bastaria a declaração de IRS).

* Os trabalhadores que prestam serviço em organismos públicos (que não só os funcionários do estado) deveriam permanecer no seu local de trabalho durante a totalidade do seu horário - são por demais conhecidos os casos de médicos que em vez de se encontrarem num Hospital Público, tal como estão escalados, passam esse tempo nos Hospitais ou Clínicas Privadas ou do escandaloso número de faltas dadas pelos deputados para tratarem dos seus interesses pessoais - Ainda há pouco tempo soube de um funcionário de uma autarquia que tendo-lhe sido solicitada a escolha do seu horário desde que permanecesse no seu posto de trabalho, respondeu que essa condição não lhe interessava!

* Os organismos públicos deixarem de contratar empresas para desempenharem um serviço que poderia perfeitamente assegurado por quem aufere o Rendimento Social de Inserção ou por desempregados de longa duração (seguranças, que na prática são homens com uma idade que não lhes permite mais do que darem informações, por exemplo), com um custo substancialmente inferior para o estado.

* Os "subsídio-dependentes", na sua área profissional, contribuírem com metade do seu dia laboral em favor da comunidade, ficando a outra metade para procurarem emprego.

* A privatização de empresas estatais que mais não são que um "poço sem fundo" dos nossos impostos - Inconcebível o prémio exigido pelos pilotos ou o vencimento de algumas "estrelas" da RTP.

* Por fim e no caso de com um só emprego não conseguirmos atingir o que pretendemos, podemos sempre iniciar actividade noutra área para a qual tenhamos aptidão:


segunda-feira, 17 de maio de 2010

Trainspotting

Há filmes que não se esquecem.
Que marcam.

O que se sentirá quando se atinge o limite?

Será possível perceber a sua chegada?

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Trânsito



Há pouco tempo, numa conversa de amigos, explicava a forma como conseguia ultrapassar vários carros nas filas matinais: "passo pela bomba de gasolina, sigo na faixa da direita e mal possa, meto-me".

Alguém, que não me recordo, disse-me: "és dos espertos, então".

Com o meu orgulho abalado, dei-me conta que estava a comportar-me de uma forma que considero errada.

Percebi também que a ansiedade que sentia ao tentar "furar" a fila de trânsito a isso se devia e optei por seguir calma e tranquilamente numa das faixas (tenho o estigma de escolher sempre a mais demorada).

Essa alteração de comportamento não se traduziu numa maior demora na chegada ao destino e fez desaparecer as preocupações com os agentes da PSP que por vezes estão junto à faixa de rodagem, com os outros automobilistas que podem não gostar da "brincadeira" e com o impedimento do trânsito na faixa da direita.

É que arriscar junto aos automóveis, só para os "entendidos" como o Xico, tal como se pode ver pela fotografia.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Amintiri din Epoca de Aur

Trinta e seis anos após a queda da ditadura, Portugal ainda procura o seu rumo.

Os crimes cometidos cairam no esquecimento e mais facilmente se critica quem fez a revolução do que aqueles que detinham o poder no tempo da "outra senhora".

Existem pessoas, instituições, feudos que não podem ser tocados.
O medo paira no ar e as bocas vão-se calando.

A nossa classe política é uma anedota e não vejo quem dentro dela esteja disposto a algum sacrifício pessoal em nome da recuperação económica.

Nunca visitei a Roménia, desconheço que vestígios permanecem do tempo de Ceausescu e a liberdade que o povo sente.

No entanto, um filme como "Histórias da Idade de Ouro" não pode deixar de ser entendido como uma lição para um povo que não fala do tempo que viveu em ditadura.

São cinco histórias de mitos urbanos modernos, onde o antigo regime é satirizado ..."consta que a roda do carrosel ainda não tinha parado quando a caravana chegou"...

Rir deles mesmos, tanto que gostaria que tivéssemos essa capacidade.


O título original do fime dá nome a este "post", é a minha homenagem aos cinco realizadores.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Um ano

Foi há um ano que criei este blogue.

Para "celebrar" a data, cá vai um parágrafo do livro que lhe deu o nome:

" Acordo na manhã seguinte com o som dos Duran Duran vindo do quarto da minha mãe com toda a potência. A porta está aberta e as minhas irmãs estão estiradas na grande cama, em fato de banho, lendo números antigos da GQ e vendo um filme pornográfico no Betamax sem som. Sento-me na cama, também em fato de banho e elas dizem-me que a mãe saiu para um almoço e que a empregada foi às compras. Vejo dez minutos de filme, curioso por saber a quem pertence: à minha mãe? Às minhas irmãs? Um presente de Natal de um amigo? À pessoa do Ferrari? Ou será meu? Uma das minhas irmãs diz que odeia o filme quando eles mostram o gajo a vir-se, e eu desço à piscina e dou umas braçadas."

O "Menos que Zero" foi escrito em 1985 por Bret Easton Ellis, que à data tinha apenas vinte anos e que ficou célebre por ter escrito "Psicopata Americano".

Sei que estou a ser simpático para o senhor dando-lhe aqui publicidade gratuita. Um dia terá oportunidade de me agradecer.


Foi esta a mensagem mais importante que recebi desde que me decidi expor num blogue:

Um obrigado a quem me tem acompanhado.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

porque sim


"Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura"

Friedrich Nietzsche

terça-feira, 13 de abril de 2010

Doutores



"doutor (segundo o dicionário da Porto Editora)
nome masculino
1. aquele que ensina
2. indivíduo diplomado com o mais alto grau universitário; aquele que se doutorou
3. médico
4. popular homem com pretensões a esperto ou com presunções de sábio
5. tratamento que, nas relações sociais, se dá a um bacharel ou licenciado
6. (religião) indivíduo que recebeu o estatuto mais elevado pela sua obra teológica
7. (coloquial) bacio, penico"

Portugal é hoje um país de "doutores". Não há programa televisivo, artigo de imprensa ou entrevista onde o "doutor" deixe de surgir.

A subserviência antes tida por quem dificilmente tinha acesso à educação em relação aos licenciados não deveria ter sido há muito abandonada?

Na actualidade, é cada vez mais fácil "tirar um curso", sendo que há quem o faça até ao Domingo e, os "doutores" não param de aumentar.

É frequente atender chamadas de pessoas que se identificam como: é o doutor tal...
Será esse o seu primeiro nome? Porque não se limitam a acrescentar a profissão, se tal for necessário?

Estamos a banalizar a palavra e principalmente o seu significado, sendo que das definições acima inicadas, corremos o risco de passar dos pontos 1. e 2. para o 4. ou mesmo o 7.!

Exagero? Acham mesmo?

quarta-feira, 17 de março de 2010

Paula Rego e Tim Burton

Desde o filme Big Fish que sou um seguidor da magia de Tim Burton.

Quando vi pela primeira vez um quadro de Paula Rego fiquei subjugado por algo que não entendia. O que na realidade ali era pintado?

Se Tim Burton é um mestre na criação de mundos de fantasia, é na fantasia desses mundos que Paula Rego encontra muitas vezes a sua fonte de inspiração. Não é em vão que considera Walt Disney, o maior pintor do sec. XX.

O facto deste "post" falar de ambos deve-se somente a ter no mesmo dia visitado a casa das histórias de Paula Rego em Cascais e visto Alice no País das Maravilhas.
Não existiu em toda a exposição um só quadro que me "libertasse" do que senti na primeira vez.
Vi bailarinas que representavam hipopótamos. Uma "mulher-cão", para o qual nem a guia tinha uma interpretação, minimamente, conclusiva, uma mulher "Anjo" que numa mão empunha uma espada e na outra uma esponja.

Dimensões criadas pela mão de uma genial pintora. De Tim Burton espera-se sempre que nos surpreenda.

E mais uma vez isso aconteceu.

Cenários cinzentos, personagens perturbadas e uma interpretação divertida da mulher do realizador - Helena Bonham Carter - no papel de Rainha Vermelha (ele chegou a afirmar que obviamente o papel era dela).
No entanto, fiquei com a sensação que não conseguiu totalmente o efeito que pretendia com os saltos constantes entre 2D e 3D. Em algumas cenas chegou a ser confuso.

Não cheguei a perceber porque motivo a Alice, na primeira vez em que cresce desmesuradamente mantém a roupa, será pelo mesmo motivo que as das cuecas do Incrível Hulk nunca se rasgam?

Um filme que surpreende mas não entusiasma.

(pshiuuuuu....aqui que ninguém nos ouve ou lê....David, a tua interpretação do quadro Olga - o Kurt Cobain após a sua morte, a criança representa a filha que chora e o vestido preto o luto da mulher - é bem mais divertida que saber que a cara é de Anthony Rudolf no corpo de uma mulher alemã, que após a segunda guerra mundial foi viver para o Estoril, tendo aí sido contratada por uma abastada família para ensinar a sua língua materna à filha do casal, apesar de suspeitarem que ela escondia um segredo. )

segunda-feira, 8 de março de 2010

porque hoje é o dia delas...

"A mulher que se acha inteligente reclama igualdade de direitos com os homens. Mas a mulher que é realmente inteligente não o faz."
Sidonie Colette

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Madeira

Cada vez com maior frequência somos confrontados com as imagens de catástrofes que vão acontecendo um pouco por todo o mundo.
Desta vez tocou a Portugal.
As palavras não saem quando vemos a força da água.
Mais do que mostrar até à exaustão a dor de um povo, a comunicação social e sites de partilha de vídeos, redes sociais, etc, porque não optam por transmitir uma mensagem de esperança, centrando as imagens nas pequenas "vitórias" que vão sucedendo?
Ninguém pode ignorar o que aconteceu e parece-me uma aberração solicitar-se que não seja decretado o estado de calamidade para não prejudicar o turismo.
Se as condições estão, infelizmente, reunidas para que algumas ajudas sejam desbloqueadas é isso que deverá acontecer.
Deverão igualmente serem apuradas as responsabilidades, caso existam, no mau planeamento urbano, na permissão de construção de empreendimentos que derrubaram demasiadas defesas naturais.
É tempo de esperança, que o amanhã traga um sorriso a todos os que sofreram.


intensamente


Mas há a vida

"Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata."
Clarice Lispector

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

AIR

Voltei à minha sala de concertos favorita.
O motivo foi o muito fixe "Love 2", disco que provou estarem os AIR "vivinhos da silva"
Desde a fabulosa banda sonora do "Virgens Suicidas" que um album deles não me despertava tanto entusiasmo e a expectativa era mais elevada que o habitual.
Seria um concerto de hits da carreira ou iria centra-se nos ultimos albuns?

Depois de uma rapariga gira se passear em palco, sem muito jeito para o que ali a tinha trazido e que motivou a pergunta: "Qual dos dois a anda a comer?" feita pelo sempre atarefado Nuno, percebeu-se que o Coliseu estava apinhado.
A muito custo consegui que o Judas, já sem muita paciência para concertos e a quem a profissão tirou a "pica" dos tempos idos, quando um concerto era tema para semanas, fosse para o meio da multidão, onde o David, Tania, Ana e Marta procuravam uma nesga que lhes permitisse perceber o que se estava a passar.

A primeira parte do concerto foi ocupada com as canções mais recentes, que se percebeu não estarem ainda bem assimiladas por um público que nunca regateou aplausos.
Muitos tentavam dançar no pouco espaço de que dispunham.
Ao fim das três primeiras músicas e com tanto calor lá fomos refrescar as gargantas e o que vimos? Várias pessoas coladas a um pequeno televisor a ver o Sporting-Nacional e a vibrarem com o ressurgimento do Levezinho. Como é possível alguém pagar € 28 para ver um concerto e preferir acompanhar as incidências de um desporto que passa a toda a hora, em todos os dias?
A palavra fanático encaixa na perfeição.

Li em algumas críticas que a dupla francesa já não denota o entusiasmo de outros tempos e que não chegaram a empolgar.
Eles são franceses...um pouco arrogantes e com muitos anos passados na estrada.
O que queriam?
Gostei especialmente do "playgroud love", música fetiche que me acompanha há muitos anos.
Não que tenha sido a música mais contagiante da noite, mas é a minha música e isso basta-me!
Também o David teve o seu "Sexy Boy" no encore e com a assistência aí já rendida à música e aos jogos de luz.

A noite continuou na Cooperativa CrewHassan e dificilmente me esquecerei que para sair da casa de banho tive de passar por uns cantores de RAP em plena actuação!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Martha Wainwright


Estranhei a forma como o crítico do BLITZ elevou a master piece este disco de versões de Edit Piaf, da mana do Rufus.

Fiquei no entanto com a "pulga atrás da orelha".

Ao passar na FNAC do Almada Forúm (isto hoje é só publicidade gratuita) perguntei ao meu "consultor" de música Indie e ali colaborador, a opinião sobre o albúm e a resposta foi semelhante à do crítico Blitziniano.

Não resisti a ouvir Sans Fusils, Ni Souliers, À Paris .

Se na primeira música fiquei sem palavras, com a segunda dirigi-me à caixa de pagamento.

Há amores assim.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Lhasa de Sela



O ano começa mal...

E o cancro da mama continua a fazer vítimas.

"All the world´s stage,
And all the men and women
merely players"

Shakespeare, "As you like it"