
"Ouve:
Como tudo é tranquilo e dorme liso;
Claras as paredes, o chão brilha, E pintados no vidro da janela
O céu, um campo verde, duas árvores.
Fecha os olhos e dorme no mais fundo
De tudo quanto nunca floresceu.
Não toques nada, não olhes, não te lembres.
Qualquer passo
Faz estalar as mobílias aquecidas
Por tantos dias de sol inúteis e compridos.
Não te lembres, nem esperes.
Não estás num interior dum fruto:
Aqui o tempo e o sol nada amadurecem."
Sophia de Mello Breyner Andersen
Na rádio passa Cocosuma ("Oh ruby sun").
Lá fora o tempo joga uma partida com o sol e a chuva.
Um rapazinho ganha uma corrida de triciclos...
Festa de aniversário, casa cheia, Maria do Céu que não para. Todos estão felizes...
Seguem-se os 200m "mariposa"; cansado, a piscina parece gigante...
O sol aconchega-nos no barco, é brilhante o peixe, ajudado a retirar pelo xalavar.
memórias...
É Sábado de manhã
tempo de me fazer à vida...
(H)ouve tempos, aqueles tempos de menina. Tão doce, tão austera, e decidida. Corria por verdes paisagens. Junto da natureza trilhava os seus caminhos e corria, corria atrás da liberdade. Misturava-se por entre flores campestres e borboletas em autêntico frenesi, uma aqui, outras ali... pouco depois... deixava-se cair, rebolava gritando aos 4 pontos cardeais: "Heidiiiii", e ecoava a melodia pela planície. Como era realmente feliz! Brincadeiras de infância, tão saudáveis, inesquecíveis, agora, meras recordações.
ResponderEliminarEnternecia-se a olhar e a admirar o mar, de um azul intenso, tão intenso como o céu que irradiava tímidos raios de sol pela manhã. Sentia os grãos de areia a percorrer os seus pequenos pezinhos, brincava com ela... ao redor, risos de crianças que jogavam à bola ou enchiam baldes de areia molhada com a pretensão de construir castelos, edificados num frágil suporte. A brisa era suave, desenhavam-se pedacinhos de reinos pelas margens da praia. E ela, continuava fixando a ondulação, o rebate das ondas que se transformavam na mais bela brancura que tinha visto. Ao fundo, um "castelo" no meio do mar, a escassos metros da margem. Olhava à volta e imaginava o seu reino traçado a leves pinceladas de rosa e pastel.
Um dos meus preferidos, de um grande génio
ResponderEliminar"O sal da língua
Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua."
É fácil copiar um texto, um poema, uma citação, e no vazio parecer-se cheio...
ResponderEliminarMais difícil será ouvir...
As memórias não deixam ouvir. São eco, ruido, abafantes ensurdecedores.
Não toques nada, não olhes, não te lembres.
Ouve...
ñ te lembres, nem esperes... era assim que eu devia ser...
ResponderEliminarbj em ti
bia
Fui correr á chuva e o cheiro da terra molhada, terra essa que faz já algum tempo é banhada "apenas" de sol, recordou-me os dias de faz de conta.
ResponderEliminarA areia podia ser açucar, a terra disfarçava-se de canela, as folhas eram cartas, as flores eram preciosos colares e o vento as grandes asas.
Recordo esses dias com a mesma intensidade de um fado que canta à brevidade da vida.
Volto a abrir os olhos e o chão que piso não tem a mesma altura e tão pouco os meus pés têm o mesmo tamanho.
Guardo então estas fotografias inesperadas, selo-as com nostalgia e estampo-lhes um sorriso.
Continuo a correr mas acelero o passo e imponho-lhe a mesma decisão de uma fuga.
A terra ainda se banha.
Do mar ainda se OUVE a mesma melodia e o cheiro salgado ainda me embriaga.
Não, não é uma recordação, é conservar o entusiasmo de criança, a mesma que fazia de conta.
Porque há momentos que devem ser lembrados e outros que nunca deveriam ser esquecidos de viver.
se tu soubesses o que este poema me faz recuar no tempo... 16/05/08!
ResponderEliminarcustou... sonhar é tão bom e magoa tanto... lágrimas desnecessárias que chegavam a doer...
há alturas da nossa vida que ñ nos deviamos deixar ir... Só pq estamos frageis!
"irrequieta"
Tenho de mencionar o grande génio do poema "O sal da língua", Eugénio de Andrade.
ResponderEliminarUm estrondoso lapso não ter colocado o seu memorável nome junto de um de tantos grandiosos poemas. Poeta que viveu parte dos seus últimos anos, na Foz do Douro, Porto.